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o círculo de quasesDizem que uma das questões mais pertinentes do nosso tempo é o quanto a ode à tecnologia nos distrai de um conteúdo real dos fatos e obras. Ao ser convidado para produzir este O círculo de quases em conjunto com Fabio Pinczwoski e Habacuque Lima, foi essa questão que me veio à mente. Uma dupla – ou uma banda de dois membros – fazia música pop, brasileira, misturando suportes acústicos e eletrônicos. Preocupou-me que todo esse papo de “analógico mais digital” já estivesse se esgotando. Então, fiquei mais atento às letras, às composições, e desde seu estado embrionário elas vieram, para minha surpresa, revestidas de uma aura de tranquila sinceridade, e de inteligência. Para meu alívio, vi em seguida que os recursos tecnológicos que os integrantes do Esquema Apê utilizavam serviam exclusivamente à sua vontade de viabilizar um único propósito: fazer a música que curtiam fazer. Carlos Eduardo e Jefferson transparecem uma amizade segura, e nessas 13 canções, uma intimidade com os sentimentos que me fez reavaliar m us próprios trabalhos autorais, minha relação com a música que faço. Carlos Eduardo tem aquela ligação protetora, zelosa, com suas letras e melodias. Jefferson adora explorar os timbres e mapas de suas linhas e programações. Quanto valor vejo na dedicação de um músico para com sua obra! Na parte instrumental, o disco finalizado me remete ao To record only water for ten days de John Frusciante, onde os timbres eletrônicos não têm a pretensão de soar como emulacões de sons reais. O uso da groovebox obedece assim a uma vontade estilística. E traz um saudável ar de brincadeira tecnológica, dessa nossa música contemporânea feita em pequenos quartos, com gadgets e softwares, no isolamento das metrópoles, nos inúmeros “apês” recheados de histórias. Nas letras, ouço a herança de tantos compositores brasileiros, de Jards Macalé, de Adriana Calcanhoto (logo, também de Caetano), de Marcelo Camelo. E desde a troca de mensagens sms que resultaram em Tudo que te fizer feliz ao retrato (auto-retrato?) do personagem de Núme os atrasados, sinto ter me tornado um amigo que ouve as reflexões e comentários de quem canta. Ouça Ampulheta no trânsito parado da avenida 23 de maio em São Paulo, ou Triz num ônibus a caminho do interior da Bahia, e o resultado será o mesmo de um bom livro ou filme: os rapazes do Esquema Apê acabaram de te transportar para um outro tempo e lugar. E desse modo, esse disco tem seu porquê assegurado, sua missão cumprida.
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