terça-feira, 30 de outubro de 2012
I Buried Paul - In schwarzen Tönen, in lauten Farben (2012)...
Em t(s)ons escuros. Você está num ambiente mal-iluminado dentro de um ônibus, seguindo estrada abaixo. É uma serra, é noite, tem mato, neblina e a luz vem a conta-gotas: ela não ajuda a revelar as cores que estão bem à frente dos seus ouvidos. Ainda assim, a viagem continua e é possível abstrair novas formas, outros tons. A paisagem se transforma, muda de gosto, fica mais àspera. Mas de alguma forma, o caos aparente parece parte integrante do trajeto e se torna mais importante que o destino - por que raios entrei no ônibus mesmo? Se eu fosse descrever em palavras a experiência auditiva de “in schwarzen Tönen, in lauten Farben” - nova criação de I Buried Paul - o resultado seria algo parecido com o parágrafo acima. (Na verdade, também é um relato de minhas primeiras audições do disco, voltando do trabalho para a casa pelo eixo São Paulo/Santos.) Mas o propósito de um release nunca deveria ficar apenas na tarefa ingrata de descrever sons, ainda mais quando o som é algo fora do padrão. É muito mais interessante pensar no contexto, nas paredes e ideias que circundam o projeto, que parece ser igualmente influenciado por John Coltrane e Sunn O)))) na concepção da sua música. A referência ao conjunto de Stephen O’Malley, expoente da cena drone atual, é puro insight da minha parte. Mas a adoração por Coltrane é latente desde o eletrônico “633” (lançado pelo selo independente Sinewave), EP anterior que serve como ponto inicial para este “in schwarzen...”, ainda que por caminhos totalmente diversos. Os ecos do jazz espacial propagado pelo saxofonista continuam aqui, mas entrecortados por influências (turbulências?) mais contemporâneas, como Swans e Einstürzende Neubauten. Dessa maneira, o minimalismo e a experimentação colidem diretamente com “chuvas” de guitarras distorcidas e ruídos, com padrões e dinâmicas sendo formados e deformados ao longo das composições. Se no registro anterior a manipulação eletrônica era o mote, agora I Buried Paul é uma entidade viva, orgânica, que a cada respiração revela suas texturas. Não por acaso, as faixas foram editadas a partir de takes ao vivo... (Fabio Machado)
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