Hit seria aquele faixa de disco ou single que se destaca e tem sucesso. Aquela música ou melodia que gruda na sua cabeça e demora pra sair, que acaba marcando o seu ano e fazendo você lembrar o que passou nele toda vez que escutar esta canção. O artista pode fazer uma faixa hit, mas não necessariamente ter um bom disco. Falamos isso porque existem discos que não entrariam entre os melhores do ano, mas que tem aquela faixa genial.
Pedimos para diversos amigos nos mandarem suas opiniões das melhores músicas que ouviram no Brasil em 2014, e eis aqui nossa mixtape colaborativa de hits nacionais deste ano. Feita por meio da votação de parceiros da internet e alguns daqueles que nos acompanham diariamente e curtem fazer suas listas de final de ano. Chegamos a um resultado bacana, porém abaixo dos outros anos. Foram mais de 50 bandas ou artistas citados e cerca de 113 músicas diferentes.
Desde que começamos esta brincadeira (estamos no quarto ano), esta é a coletânea com o menor número de votantes e votações (pessoal ficou com preguiça, depois de votarem duas vezes pra presidente?). Também é a mixtape mais diversificada do que todas as anteriores, muitos estilos e artistas de diversos locais distintos foram contemplados. Pela primeira vez tivemos uma empate entre os artistas mais votados, porém com relação a faixa que seria o principal hit do ano, foi quase uma unanimidade. Então, leia algumas palavras sobre os sons selecionados na ordem decrescente de votação (ou seja, os mais votados primeiro):
01. Juçara Marçal – Ciranda do Aborto: Em um álbum que fala sobre a morte, talvez essa seja a canção mais emblemática e que mais sintetiza esse sentimento. Aqui, o que morre é a música, o popular. No começo, tudo parece normal, uma faixa da tal nova MPB, mas quando Kiko Dinucci, Roher e a voz de Juçara se encontram lá na terceira estrofe, tudo muda, e o que até então era apenas uma música popular brasileira, é um ruído e um barulho que incomoda quem esperou que a estrutura do começo fosse repetida até o fim.
02. Criolo – Fio de Prumo (Pade Onã): Juçara Marçal canta o refrão, que é a música “Pade Onã”, de Kiko Dinucci e do Bando Afromacarronico. Pede licença, benção e um caminho tranquilo para que o ritual comece, para enfrentar a cidade cinza, que tem um cronista, Ogi. É São Paulo, a selva de pedras, o trabalho em excesso, o relógio, o prumo para alinhar as construções enormes dessa pauliceia estranha e não se engane, pois no templo do capital, o que vamos suar é veneno.
03. ruído/mm – “Cromaqui”: os curtibanos do ruído/mm formam de longe um dos melhores conjuntos de música instrumental do Brasil. Eles entrarem nesta coleta de hits chega a ser uma justiça pela história do grupo. “Cromaqui” é uma das faixas mais rápidas e diretas do Rasura, quarto álbum deles. Talvez por ter menos firulas (porém, cheia de qualidades), caiu mais no gosto dos fãs do rock instrumental e por isso foi a música mais votada deles.
04. Lupe de Lupe – “Eu Já Venci”: “Somos a melhor banda de rock do país”, me disse Vitor Brauer
em uma entrevista que fiz para o Noisey. Esse som é sobre isso. Sobre quatro moleques do interior de Minas Gerais que ganharam um posto inimaginável na cabeça deles de um dos melhores grupos do Brasil. E que se dane Belo Horizonte, a esquerda festiva e toda a panela que se formou na capital mineira, o que importa é que só de estar aqui, nesse site, nas listas de melhores do ano e ter rodado esse país inteiro, eles já venceram.
05. Russo Passapusso – “Paraquedas”: Russo é um dos nomes mais produtivos da música independente de raiz brasileira. O baiano faz parte de projetos que misturam a tal música negra com outros elementos da multicultural miscelânea musical brasileira. Em seu primeiro disco solo, ele conseguiu aliar essas influências instrumentais com ótimas letras, bem pra cima. “Paraquedas” tem um suíngue único, que faz qualquer travadão duro se arriscar num balanço daqui prali, mesmo o mais tímido que seja e esse é um dos trunfos do trabalho dele.
06. Racionais MCs – "Quando Vale o Show?": Histórias, o Capão, a infância do Brown e o que deu a prévia para Cores e Valores. É uma vinheta? Não, não. É outra fase, outra fita, é bem anos oitenta na periferia, é o que o cara passou, são lembranças com um sample do Silvio Santos, é tudo o que muita gente queria que o Racionais não fizesse, e eles fizeram.
07. Banda do Mar – “Mais Ninguém”: O novo projeto do Marcelo Camelo com a Mallu Magalhães tem realmente a cara da música pop brasileira em 2014. Provavelmente “Mais Ninguém” é a música que entrou nesta mixtape com mais cara de hit. Ah, também é um pouco de saudosismo do Los Hermanos, mas se a banda era legal, por que não ter saudades? Acho saudável.
08. Cadu Tenório + Márcio Bulk – “Em Transe”: A doce voz de Lívia Nestrovski somada a bonita letra de Márcio Bulk e a composição recheada de ruídos, sintetizadores e manipulação de fitas k7 do Cadu Tenório só poderiam resultar em um sentimento de estranheza, em uma linha tenue entre a tristeza e a admiração, em outras palavras, em um transe.
09. Mabombe – “Fervo”: Desde que começamos esta compilação, o instrumental sempre foi presente. Desta vez, além de bem representado, o estilo traz um frescor de novidade. Udubio, primeiro disco da banda, é uma aula de música livre. “Fervo” tem nuances de frevo, um dos estilos mais populares do estado de Pernambuco e um totem do carnaval. A desconstrução é uma das melhores maneiras de se renovar musicalmente e parece que o trio segue no caminho certo pra isso.
10. Burro Morto – “Lúcifer Colombia”: Uma das melhores bandas de instrumental do nordeste, um dos grupos mais mutantes do estilo no Brasil. Este single marca o retorno dos paraibanos e foi “inspirada na guitarrada psicodélica peruana dos anos 60, mas em uma roupagem moderna, explorando o uso de samples cortantes, um lead synth agressivo delineando a melodia, o baixo minimalista tecendo o alicerce em conjunto com as congas e o groove pesado de uma bateria acústica que soa quase eletrônica, tudo bem pra frente”, como dito pelo grupo
em entrevista para o Altnewspaper.
11. Trash no Star – “How Are You?”: Guitarras dissonantes. É isso que eu vejo em “How Are You?”, do Trash no Star, uma das melhores surpresas desse lindo ano de 2014. É sujo, é lo-fi, é mais uma banda da Transfusão Noise Records, e você sabe o que é que o Lê Almeida gosta de gravar e lançar.
12. O Terno – “Bote Ao Contrário”: Se não fosse esta votação, provavelmente o trio paulista O Terno teria passado em branco na casa. Faço a meia culpa com a enorme quantidade de discos que chega em nosso e-mail anualmente, sempre deixaremos alguém passar. Foi pra isso que nós criamos esse tipo de iniciativa, e assim sendo, você pode ouvir o rock com nuances de pop e sair dançando onde estiver.
13. Poltergat – “Dead Sense”: Esta banda é uma das gratas surpresas de 2014. Conheci por conta de uma entrevista que saiu no Flogase e provavelmente foi por causa do Fernando que ela conseguiu aparecer na mixtape. O som é garageiro, é rock com pitada de punk e muito do lo-fi. Combina com quem curte inferninhos pequenos, com um som barulhento, cerveja e bastante gritos entre o público e o grupo. Eu iria nesse show numa boa.
14. Ratos de Porão – "Século Sinistro": É o Ratos de Porão então nunca imagine algo fofo, é sempre porrada, é aquele crossover que a gente tanto gosta falando sobre esse século de bosta que estamos vivendo. É a guerra, a religião, a fome, a alienação e a violência, tudo junto e misturado, naquele climão que o Ratos faz tão bem há mais de 25 anos.
A arte mais uma vez foi colaborativa, porém, desta vez, partindo de rabiscos feitos por alguns dos artistas que participaram do blog neste ano, realizando capas para nossas coletas mensais. Quem deu início a arte da capa foi a
Rayana Viana (novembro). Depois disso, aconteceram intervenções de
Thiago Trapo, Paulo Marcondes e Diego Albuquerque. Finalizando a arte,
Diogo Galvão fez a diagramação em grande estilo. Agradecemos a todos os artistas que realizaram nossas coletas ao longo do ano e mais esta última correria, precisando, estamos aí! Foram belos trabalhos, torcemos para que vocês continuem fazendo arte e que tenhamos ajudado de alguma maneira em suas vidas.
Esse material não deve ser comercializado, apenas disponibilizado para download. Trata-se de mais uma mixtape, desta vez feita da maneira mais democrática possível, com a opinião de quem teve tempo e fez contato com a gente ao longo de nossa existência e deste ano de eleições e muito futebol moleque da Alemanha. Agradecemos a todos pelo apoio, seja para trocar ideia, enviar seu som, realizar intervenção visual, reclamar de nossas postagens ou simplesmente quem acompanha esta nossa brincadeira insana e saudável. Esperamos que você divirta-se quando ouvir os sons da coleta como nós que a fizemos e até o ano que vem.
Feliz ano novo!
Continuem disseminando o som, escutando música e indo aos shows!