"revolucionária e revolucionário é quem não segue modelo / é quem vai inventar uma experiência que não tem pra copiar / porque quem tem pra copiar é conservador” Assim declara o filósofo e advogado marxista Alysson Mascaro em um debate na #VazaJato, sampleado na faixa “aquecimento da massa” de suave. Assim considerado, “brasil, um sonho intenso” é bastante revolucionário: uma introdução de vinte segundos com um sample de uma descarga de privada precede cinco colagens de som frenéticas que são infinitamente inventivas. Anunciada por cowbells, “aquecimento da massa” é uma mistura violenta de batucada, sintetizadores distorcidos e berrantes, tudo sustentado por um estrondoso 4/4. É uma música barulhenta e cativante, que soa extraterrestrialmente moderna e, ainda assim, enraizada no solo da tradição do samba brasileiro. A música seguinte, “arrebatamento epistêmico”, flui perfeitamente nesse rastro: um agogô de samba, tambores retumbantes e palmas guiam o ouvinte por uma onda errática de sintetizadores arpejados (sampleados de um jogo de Yu-Gi-Oh! do PlayStation), enquanto um professor de história. luta para dar uma palestra sobre a etimologia da Macumba. “foda” é uma faixa espectral que vagueia silenciosamente, com bateria oscilante e midis de trompete, antes que “eterno agora”, sample da power ballad dos anos 90 de Roberto de Carvalho com o mesmo nome, chegue como a faixa melódica mais estruturada. Um começo arrastado – com muitos pads de sintetizador e vocais lentos – entra no ritmo de uma batida de trip-hop e um solo de saxofone que pode ter saído de uma trilha sonora de Angelo Badalamenti. A peça final, como uma colaboração digitalizada entre Pedro Dos Santos e Sebastião Tapajós ou um corte de Jorge Degas e Marcelo Salazar em “Muxima” (1995), apresenta uma percussão intrincada e viva. É um momento de trégua, com flautas crescendo e sons de pássaros sampleados. Mas seria um final impróprio para o frenético álbum de suave se não caísse em um distúrbio final de barulho: de repente, a percussão encontra uma nova força, como tambores de cascos galopando... mas o clímax nunca chega. Impossível de prever, o álbum fértil e inspirado de suave termina com um último floreio "revolucionário" – a construção se dissolve em uma névoa de reverberação e ruídos da floresta tropical. E ficamos com as falas inquietantes: "quem olha pra dentro acorda / todo rei deve se enforcar / arrebatado em águas revoltas"... review de Joe Osborne da Sounds and Colours (tradução livre)
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
suave - brasil, um sonho intenso (2020)...
Download: brasil, um sonho intenso (2020).zip (ou vá no bandcamp acima)
"revolucionária e revolucionário é quem não segue modelo / é quem vai inventar uma experiência que não tem pra copiar / porque quem tem pra copiar é conservador” Assim declara o filósofo e advogado marxista Alysson Mascaro em um debate na #VazaJato, sampleado na faixa “aquecimento da massa” de suave. Assim considerado, “brasil, um sonho intenso” é bastante revolucionário: uma introdução de vinte segundos com um sample de uma descarga de privada precede cinco colagens de som frenéticas que são infinitamente inventivas. Anunciada por cowbells, “aquecimento da massa” é uma mistura violenta de batucada, sintetizadores distorcidos e berrantes, tudo sustentado por um estrondoso 4/4. É uma música barulhenta e cativante, que soa extraterrestrialmente moderna e, ainda assim, enraizada no solo da tradição do samba brasileiro. A música seguinte, “arrebatamento epistêmico”, flui perfeitamente nesse rastro: um agogô de samba, tambores retumbantes e palmas guiam o ouvinte por uma onda errática de sintetizadores arpejados (sampleados de um jogo de Yu-Gi-Oh! do PlayStation), enquanto um professor de história. luta para dar uma palestra sobre a etimologia da Macumba. “foda” é uma faixa espectral que vagueia silenciosamente, com bateria oscilante e midis de trompete, antes que “eterno agora”, sample da power ballad dos anos 90 de Roberto de Carvalho com o mesmo nome, chegue como a faixa melódica mais estruturada. Um começo arrastado – com muitos pads de sintetizador e vocais lentos – entra no ritmo de uma batida de trip-hop e um solo de saxofone que pode ter saído de uma trilha sonora de Angelo Badalamenti. A peça final, como uma colaboração digitalizada entre Pedro Dos Santos e Sebastião Tapajós ou um corte de Jorge Degas e Marcelo Salazar em “Muxima” (1995), apresenta uma percussão intrincada e viva. É um momento de trégua, com flautas crescendo e sons de pássaros sampleados. Mas seria um final impróprio para o frenético álbum de suave se não caísse em um distúrbio final de barulho: de repente, a percussão encontra uma nova força, como tambores de cascos galopando... mas o clímax nunca chega. Impossível de prever, o álbum fértil e inspirado de suave termina com um último floreio "revolucionário" – a construção se dissolve em uma névoa de reverberação e ruídos da floresta tropical. E ficamos com as falas inquietantes: "quem olha pra dentro acorda / todo rei deve se enforcar / arrebatado em águas revoltas"... review de Joe Osborne da Sounds and Colours (tradução livre)
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