Em 2010, em uma das primeiras viagens que fiz a São Paulo, lembro de ter entrado em uma loja de discos na Galeria do Rock, um dos pontos que visitei e, talvez, centro de um imaginário roqueiro para aqueles que, assim como eu, consumiam música na primeira década dos anos 2000 e nunca tinham visitado a capital paulista. Lembro de ter pegado no balcão da loja um folheto do tamanho de um cartão postal com a divulgação do lançamento do trabalho solo de Jair Naves, até então conhecido pelo seu trabalho com a banda Ludovic. O cartão era uma sobre “Araguari” (2010), primeiro trabalho de Jair, e trazia algumas citações e, dentre elas, acho que a de Hélio Flanders me chamou a atenção. O cantor e compositor à frente do Vanguart enaltecia Naves como um dos maiores compositores de sua geração e chamava a atenção para uma beleza, digamos, “cortante” das músicas do ex-Ludovic em sua empreitada solo. Em 2022, mais de uma década depois, Jair Naves lança seu quinto álbum de estúdio, “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” e, ao que me parece, segue sendo um lugar comum reafirmar as palavras de Flanders no cartão de “Araguari”. Naves é dono de um estilo muito peculiar de composição lírica, que mescla uma sensibilidade aflorada com uma sinceridade arrebatadora sobre si. Musicalmente, sempre transitou entre uma figura de trovador ao violão flertando com sonoridades folk, principalmente no início da sua carreira no já citado EP “Araguari”, e entre o performer roqueiro enérgico e catártico, remetendo aos tempos de sua ex-banda, em trabalhos mais recentes como “Trovões A Me Atingir” (2015) e “Rente” (2019). Nesse novo trabalho, Jair parece apontar para novos rumos e nos oferece um disco sobre processos, sejam eles de aprendizagem, descoberta ou experimentação, mas que passam desde o desbravamento de um novo instrumento, como também novas relações com a composição musical em estúdio, técnicas de gravação e, até mesmo, uma mudança de paradigma em relação ao equipamento de áudio e etapas de pós-produção. O que temos nas 13 faixas de “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” é a poesia apurada de Jair Naves refletindo sobre a vida em seus agora completados 40 anos, a complexa divisão de vida entre dois países (sob a perspectiva de imigrante latino em uma Califórnia progressista e neoliberal, assim como, um estrangeiro que, sem ufanismo, se [re]descobre brasileiro), a solidão do isolamento social ocasionado pela pandemia e sobre um Brasil adoecido tanto pela COVID-19, ansiedade e depressão quanto pelo fascismo espraiado pela extrema-direita... Continue Lendo a entrevista no Scream Yell
segunda-feira, 20 de junho de 2022
Jair Naves - Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo (2022)...
Em 2010, em uma das primeiras viagens que fiz a São Paulo, lembro de ter entrado em uma loja de discos na Galeria do Rock, um dos pontos que visitei e, talvez, centro de um imaginário roqueiro para aqueles que, assim como eu, consumiam música na primeira década dos anos 2000 e nunca tinham visitado a capital paulista. Lembro de ter pegado no balcão da loja um folheto do tamanho de um cartão postal com a divulgação do lançamento do trabalho solo de Jair Naves, até então conhecido pelo seu trabalho com a banda Ludovic. O cartão era uma sobre “Araguari” (2010), primeiro trabalho de Jair, e trazia algumas citações e, dentre elas, acho que a de Hélio Flanders me chamou a atenção. O cantor e compositor à frente do Vanguart enaltecia Naves como um dos maiores compositores de sua geração e chamava a atenção para uma beleza, digamos, “cortante” das músicas do ex-Ludovic em sua empreitada solo. Em 2022, mais de uma década depois, Jair Naves lança seu quinto álbum de estúdio, “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” e, ao que me parece, segue sendo um lugar comum reafirmar as palavras de Flanders no cartão de “Araguari”. Naves é dono de um estilo muito peculiar de composição lírica, que mescla uma sensibilidade aflorada com uma sinceridade arrebatadora sobre si. Musicalmente, sempre transitou entre uma figura de trovador ao violão flertando com sonoridades folk, principalmente no início da sua carreira no já citado EP “Araguari”, e entre o performer roqueiro enérgico e catártico, remetendo aos tempos de sua ex-banda, em trabalhos mais recentes como “Trovões A Me Atingir” (2015) e “Rente” (2019). Nesse novo trabalho, Jair parece apontar para novos rumos e nos oferece um disco sobre processos, sejam eles de aprendizagem, descoberta ou experimentação, mas que passam desde o desbravamento de um novo instrumento, como também novas relações com a composição musical em estúdio, técnicas de gravação e, até mesmo, uma mudança de paradigma em relação ao equipamento de áudio e etapas de pós-produção. O que temos nas 13 faixas de “Ofuscante A Beleza Que Eu Vejo” é a poesia apurada de Jair Naves refletindo sobre a vida em seus agora completados 40 anos, a complexa divisão de vida entre dois países (sob a perspectiva de imigrante latino em uma Califórnia progressista e neoliberal, assim como, um estrangeiro que, sem ufanismo, se [re]descobre brasileiro), a solidão do isolamento social ocasionado pela pandemia e sobre um Brasil adoecido tanto pela COVID-19, ansiedade e depressão quanto pelo fascismo espraiado pela extrema-direita... Continue Lendo a entrevista no Scream Yell
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário