Na substância desse novo álbum do Diagonal, há o trabalho em torno da ideia de luz e noite, a ideia de luz na grande noite desse tempo. A forma do duplo como que estrutura, assim, as duas metades do conjunto, mas também o interior de cada uma dessas músicas. É assim que a velocidade e o descontrole aparentes de “Hollow Man”, com o vocal enérgico das primeiras frases são contrabalançadas pela melodia irônica do refrão – “tin robot, hollow man” –, e que, nomeando o robô pressuposto no título, traduz o que há de meio duro e quadrado nesse ritmo, para enfim se dissolver no riff veloz e supersônico do final. Algo aqui se avoluma e se torna modelo, meio orgânico, meio robótico, entre o estático e o dinâmico, e tudo duplo desde a base. Daí também a variedade e as variações desse modelo num disco que mostra para quê uma banda resolve retornar depois de 20 anos de pausa. Algo da dureza e do peso da rocha cristalina, angular, da “luz da noite” traduzida na capa estranha, surge na próxima faixa, “Ubertelic”, temperando o monolitismo algo sombrio das guitarras pesadas – talvez por isso a banda assume o ré como a nota mais baixa da escala neste álbum –, pela voz sofrida e dramática de Sérgio, dobradas por Cláudio, e as guitarras abafadiças do meio. Poucas vezes a banda ganhou essa expressão de dor e desconsolo, um traço que só a maturidade de uma banda pode realizar. A dissonância e os ritmos imprevisíveis clássicos da banda ressurgem, no entanto, com a fugaziana “Single Last Conversation” e o ritmo funkeado de “Candy Bill” (uma homenagem ao guitarrista falecido do Gang of Four Andy Gill?). Em “Night Light”, o tom desce para Dó, como cama mais uma vez funkeada para o vocal surpreendente que cruza em modo de refrão-melodia enfrentando os monstros no pesadelo da noite materialista da História. A sonoridade sem truques e efeitos, tudo gravado em sessões ao vivo (menos o vocal), dá ainda mais força a esse aspecto de redução ao “preto e branco” metafórico fundamental dessas composições. Num continuum lógico, assim, como tudo o que é composto pela banda, o álbum se transforma e finaliza com as luzes, primeiramente com o balanço cerrado de “Too late” e o ritmo frenético de “Still Time”, retornando às cores sombrias da sonoridade e da letra de “Can’t afford it”, com um refrão pesado e funesto, para finalmente se abrir ironicamente com as duas faixas finais: “Clov” (feita basicamente para baixo e bateria e o vocal enérgico de Cláudio recontando o fim de partida beckettiano – “I open the door of the cell and go”) e o ritmo intrincado, meio pinbackiano, de “Otherwise”, com tudo terminado num certo desafogo de berros e o som de fundição da rocha metamórfica que dá vida à capa....
segunda-feira, 4 de setembro de 2023
Diagonal - Night Light (2023)...
Download: Night Light (2023).rar
Na substância desse novo álbum do Diagonal, há o trabalho em torno da ideia de luz e noite, a ideia de luz na grande noite desse tempo. A forma do duplo como que estrutura, assim, as duas metades do conjunto, mas também o interior de cada uma dessas músicas. É assim que a velocidade e o descontrole aparentes de “Hollow Man”, com o vocal enérgico das primeiras frases são contrabalançadas pela melodia irônica do refrão – “tin robot, hollow man” –, e que, nomeando o robô pressuposto no título, traduz o que há de meio duro e quadrado nesse ritmo, para enfim se dissolver no riff veloz e supersônico do final. Algo aqui se avoluma e se torna modelo, meio orgânico, meio robótico, entre o estático e o dinâmico, e tudo duplo desde a base. Daí também a variedade e as variações desse modelo num disco que mostra para quê uma banda resolve retornar depois de 20 anos de pausa. Algo da dureza e do peso da rocha cristalina, angular, da “luz da noite” traduzida na capa estranha, surge na próxima faixa, “Ubertelic”, temperando o monolitismo algo sombrio das guitarras pesadas – talvez por isso a banda assume o ré como a nota mais baixa da escala neste álbum –, pela voz sofrida e dramática de Sérgio, dobradas por Cláudio, e as guitarras abafadiças do meio. Poucas vezes a banda ganhou essa expressão de dor e desconsolo, um traço que só a maturidade de uma banda pode realizar. A dissonância e os ritmos imprevisíveis clássicos da banda ressurgem, no entanto, com a fugaziana “Single Last Conversation” e o ritmo funkeado de “Candy Bill” (uma homenagem ao guitarrista falecido do Gang of Four Andy Gill?). Em “Night Light”, o tom desce para Dó, como cama mais uma vez funkeada para o vocal surpreendente que cruza em modo de refrão-melodia enfrentando os monstros no pesadelo da noite materialista da História. A sonoridade sem truques e efeitos, tudo gravado em sessões ao vivo (menos o vocal), dá ainda mais força a esse aspecto de redução ao “preto e branco” metafórico fundamental dessas composições. Num continuum lógico, assim, como tudo o que é composto pela banda, o álbum se transforma e finaliza com as luzes, primeiramente com o balanço cerrado de “Too late” e o ritmo frenético de “Still Time”, retornando às cores sombrias da sonoridade e da letra de “Can’t afford it”, com um refrão pesado e funesto, para finalmente se abrir ironicamente com as duas faixas finais: “Clov” (feita basicamente para baixo e bateria e o vocal enérgico de Cláudio recontando o fim de partida beckettiano – “I open the door of the cell and go”) e o ritmo intrincado, meio pinbackiano, de “Otherwise”, com tudo terminado num certo desafogo de berros e o som de fundição da rocha metamórfica que dá vida à capa....
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