segunda-feira, 25 de março de 2024

Radio Diaspora - Boemia (2024)...





Uma reza talvez seja a definição que mais se aproxime da filosofia de ‘Boemia’. No entanto, aqui, o templo sagrado se faz na roda de samba, daquelas germinadas no final da década de 1970 na cidade do Rio de Janeiro, quando os reverendos eram sambistas experimentais de fato, e levavam o grito do subúrbio para todo o país reinventando os modos de existir no mundo. Este álbum nasce, portanto, de um fascínio, de uma reverência, e reúne importantes signos de sonoridades ancestrais que aqui ganham contornos outros e se firmam na bateria febril de Wagner Ramos e nos labirintos dos sopros de Rômulo Alexis, qual uma espécie de crônica poética a nos colocar em contato direto com outros conceitos em torno do Tempo. Boemia vai ao encontro de antigos deuses forjados na força coletiva da invenção. Para isso, o duo cose, cada um à sua maneira, uma atmosfera de tons orgânicos e simbióticos, algo que beira o abismal: uma dança que atravessa o processual e a confiança. A Radio Diaspora naturalmente se volta para o amanhã ao tempo em que mira o pretérito, e o faz ostentando uma ética experimental repleta de fluidez, já que os fenômenos que os orientam envolvem soltura. E então brincam. É quando o fascínio se torna um princípio, e cria caminhos para atravessar rios de conduta eletrônica num disco que possui certo caráter autobiográfico, nascido de um instrumental que, comparado às obras anteriores, soa mais fluido, com um andamento melódico-harmônico onde há menos vozes, repleto de elementos percussivos do samba como, por exemplo, o repique de mão...

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